Cadê os Gênios da Sociedade?
- Nathan Barbosa
- 26 de mai. de 2015
- 4 min de leitura

Graduação, pós, mestrado, doutorado, livre docência, MEC, ABNT, Lattes, Iniciação Científica, títulos, equivalências e intercâmbio. Em meio a tantas instituições e regras destinadas à produção científica, onde estão os nossos gênios? Você já deve ter feito essa pergunta e, assim como eu, chegou a conclusão de que não há nada mais a ser inventado. Os antigos deram sorte e criaram tudo antes de nós! Se acalme, ainda não inventei nada, talvez nem seja o primeiro a escrever sobre isso, mas saiba que deixaríamos Foucault feliz somente por pensar isso. Vamos ao texto. Para estrear a literatura Foucaultiana é basilar ter em mente que seus escritos passeiam por diversas áreas intelectuais, desde a jurídica até a política, perpassando, é claro, pela psicanálise de Freud e Lacan, bem como é fundamental atinar que sua produção fora abruptamente pausada por sua morte, deixando, em alguns temas, lacunas significativas para o fechamento de alguns de seus pensamentos. Essa multidisciplinaridade, somada a sua complexidade léxica, torna árduo qualquer desenvoltura para estabelecer parâmetros literários. Logo, compor alguma demonstração de seus registros é penoso. Assim delineamos a direção da leitura que faremos sobre este louvável, porém deveras contestado, autor que contrariava firmemente as formas de controle praticadas pelas diversas instituições: escolas, prisões, hospícios, hospitais, etc., incluindo todos esses setores na constituição da forma de subjetivação do sujeito.
Tais instituições, segundo Foucault, coisificavam os indivíduos de forma que os alienavam através de mecanismos de punição, fazendo com que sua existência, uma vez condicionada a esses mecanismos, seja tão supérflua que varie apenas no tempo e espaço. Exemplo disso é a inserção da criança na escola que, decerto, causa um severo ajustamento às regras de normalidade social, fabricando uma subjetivação pré-moldada, que não é restrita ao estágio infantil, mas sim eterna e progressiva. Ao final, todos devem findar no mesmo objetivo: atingir médias que, corriqueiramente, não correspondem ao conhecimento verdadeiro. Na construção do eu, o autor confere que o sujeito age como sendo sempre um correspondente do outro, ou seja, apreendendo os diversos modos de existência, ele clona e encontra o outro em si mesmo.
Agora, dispondo uma parte desta releitura para uma construção significativa, uma atualização dos pensamentos foucaultianos, o presente registro deleitará uma singela crítica aos mecanismos que não eram vigentes na época, logo, não entraram na pauta de Foucault. Para tal, faço menção aos grandes nomes que marcaram a história 'criando', e não 'transformando' como fazemos hoje.
Newton se graduou em 1665, porém na metade de sua passagem pela universidade já havia formulado o binômio de Newton, que até hoje é usado. Freud se juntou com Charcot nos estudos com hipnose e, pouco tempo depois, se desvencilhou significativamente para formar a teoria do inconsciente, a partir de poucos embasamentos, fazendo da psicanálise um método usado até hoje, cem anos depois. Da Vinci transitou da pintura para a engenharia, juntando apenas sua prática com desenhos à sua criatividade. Darwin iniciou a faculdade de medicina, porém não passou da metade e, mesmo assim, estudou e criou a teoria da evolução.
Com esses exemplos, exalto que o que outorga-lhes o reconhecimento não é a titulação obtida oficialmente por cada um deles, mas sim o que construíram sendo estudiosos e, indiscutivelmente, aprendizes. Portanto não eximo a figura de outrem no aprendizado dos grandes nomes, contudo não admito que tais figuras sejam, sequer, próximas às instituições atuais. Comparemos a frequência da 'produção' de grandes renomes de antigamente e a atual, e logo percebe-se uma diminuição considerável que nos leva a algumas proposições: não há mais o que criar? Não há mais criadores? Não há mais liberdade para criar? Se não há mais o que criar, falta-me conhecimento para afirmar que sim ou que não, digo conhecimento e não titulação. Se não há mais criadores, justifico com a pergunta seguinte e digo, sem medo de errar, que estamos impetuosamente engessados à um sistema - o mesmo citado por Foucault - que descredita qualquer construção não acompanhada de um diploma, inclusive esta.
A produção bibliográfica atual deve ser embasada, precisamente, em autores que estudaram a temática, porém nem todos se titularam para dizer tais pressupostos. Outrora, alguns sem titulação provaram com experiências aceitas cientificamente, outros não precisaram de tal artifício para serem aceitos. Sendo assim, o cuidado na fundamentação que temos hoje diverge, arbitrariamente, com os cuidados dos precursores de algumas teorias, tornando-se altamente contraditório e paradoxal respeitar tal método. Até agora pronuncio somente a forma no qual usamos o conhecimento criado por outros, e quanto a criação recente?
Certamente as novidades atuais estão inerentes ao que já foi criado, culminando em uma atualização ou modificação do existente. Não deixa de ser novo, mas não é criado. A Psicologia positiva é o exemplo mais recente de uma modificação em nosso ramo que tenho conhecimento. A maioria das referências bibliográficas estão entre 2000 e 2012. Porém o cerne da questão está longe de ser a atualização dos conteúdos. Me atenho mais a criação dele, criação esta que eu não sei onde está, pois todos se calam com medo de serem perguntados: qual a referência que você tem ao falar isso?! Julgando o conhecimento de outrem como sendo pouco e, assim, calando as mentes brilhantes.
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