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O Marketing do Psicanalista


Além da regulamentação ética regida pelo Conselho Federal de Psicologia, o marketing da clínica em psicanálise é obscuro e pouco discutido no ambiente acadêmico. Referindo-se à clínica psicológica, uma atribuição restrita à graduação de psicologia, o psicólogo conclui o curso e cai em algumas ciladas de divulgação que minam sua clínica gradativamente. Dentre as teorias psicológicas, o marketing da clínica psicanalítica é tecnicamente o mais restrito. Se não lhe falaram como divulgar, certamente disseram sobre as reservas de sua figura profissional e da estampa de distanciamento inerente à clínica psicanalítica. Desta forma, estratégias como as do coach, neurocientistas, cognitivistas e Gestalt terapeutas são inapropriadas para o psicanalista, quando não configuram uma divergência teórica inafiançável.

Para nós, a lógica ética da psicanálise precisa reger qualquer ação de marketing. Isso significa que, enquanto as supracitadas se valem da oferta de objetivos, sucesso e felicidade e empatia, a teoria psicanalítica convoca o sujeito para o encontro com a falta e para a responsabilização, aclaradas ao estudante após a articulação da pulsão e seus destinos, do prazer e o gozo, da identificação com o analista e da dissimulação do sintoma. Logo, a clínica da psicanálise merca, por inerência, o encontro com o indesejado, conclusão que levou Freud a dizer que "as poderosas resistências à psicanálise não eram de natureza intelectual, portanto, e se originavam de fontes afetivas" (1925/2011, p. 264).

Hoje, a maior parte da procura por serviços começa na internet, fazendo com que o marketing digital seja o meio de divulgação mais importante para que sua clínica seja conhecida. Ter uma boa presença local, isto é, regionalizada para as demandas de seu público, define a solidez de seu projeto e estabelece com seus possíveis pacientes uma conexão com bons precedentes. Abaixo, vão os 4 pontos cruciais na divulgação da sua clínica. Eles podem parecer utópicos perante às resistências e crises econômicas, mas lembre-se que abrir mão da palavra com simplismos e métodos apelativos significa abrir mão da coisa: a ética da psicanálise. 1. Atenção ao discurso capitalista e da ciência

a) É certo que uma manchete polêmica e sensacionalista capta o interesse de quem lê, porém elas estão cheias de julgamentos e apelos exagerados. Para esta publicação, por exemplo, saber os “4 passos para dar um salto na sua clínica” conseguiria o dobro de leitores, porém é disso que se constitui a ética: abrir mão dos atalhos que manipulam e assujeitam. Na clínica, a promessa do sucesso é insignificante pois o sujeito é tão singular quanto seu gozo, e sua propaganda não irá mudar isso. b) Outra implicação ética que o estudante de psicanálise se depara diz respeito à forma de abordar os sintomas da moda. TDAH, síndrome do pânico, depressão, fobia, burnout e tantos outros conjuntos que precisam ser problematizados pela dependência medicamentosa, por vezes indiscriminada. Não somente por isso, evocar tais significantes para angariar público, sabendo que esse conjunto de sintomas têm uma carga pejorativa que já caiu no senso comum, é desfrutar desse discurso. Por que nomear uma palestra sobre depressão se iremos falar de melancolia?

c) Segundo o psicólogo linguista de Harvard Steven Arthur Pinker, a qualidade da sua escrita se resume em empatia. O texto mal escrito, por sua vez, não é, necessariamente, resultado da falta de conhecimento, mas sim do excesso. Isso significa que não se pode pressupor que o leitor saiba o que você está escrevendo, de forma que você abra mão das explicações mais básicas. Se o seu canal de comunicação não for uma revista científica ou se você deseja abranger o seu nicho de leitores, assumir uma postura textual simples e clara será sua melhor decisão.

2. Foque no conteúdo a) A clínica é uma atividade intelectual; ela não culmina em um produto e seus ganhos são incalculáveis. Logo, não se pode estampar depoimentos e casos de sucesso para promover sua eficácia. A melhor alternativa para o psicanalista é, junto com a indicação boca a boca, a produção intelectual. Crie a demanda através de conteúdos que esclareçam e demarquem a subversão da psicanálise aos discursos que anulam o sujeito. b) Mesmo com toda informação necessária à disposição, a psicologia ainda sofre com definições pejorativas pelo público leigo. Ao psicanalista compete a tarefa de ajudar as ciências psicológicas na dissolução desse mal-entendido. É claro que isso não é possível quando se compartilha frases de efeito com um fundo enigmático. Psicologia não é aconselhamento e psicólogo não é mestre dos magos para lançar um enigma no vácuo como fazem essas imagens.

Agora você já tem as diretrizes básicas para fazer um bom marketing sem cair em contradições teóricas. Faça bom proveito e lembre-se que a psicanálise não é um dogma, mas é uma técnica. Por isso, estude o bastante para flexibilizá-la. Para compreender melhor, leia Cadê os gênios da sociedade?

O Escritor

Psicólogo pela Universidade Veiga de Almeida, estudante de psicanálise e escritor.

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