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Thammy Miranda: da escolha sexual à posição ativa

OBS.: neste texto, seguiremos a nomenclatura usada nas redes sociais oficiais de Thammy.

Thammy Miranda causou desordem no discurso normativo ao declarar-se heterossexual nesta semana. Uma desordem certamente necessária, para intensificar o debate acerca do processo de mudança de sexo corporal: quem sou após a transsexualização, homo ou hétero? No quesito gênero, essa pergunta percorre um nicho ainda menor, isto é, me parece uma questão própria do desejo pela transsexualidade. Na mesma entrevista, sua companheira declara que sempre viu em Thammy uma “mulher mais masculina”, e nós tentaremos entender, através da psicanálise, o que está por trás dessa percepção.


É comum, e não normal, reproduzirmos o estereótipo da homossexualidade. A lésbica afeminada causa tanto estranhamento quanto o homem gay viril. “Nossa! Nem parece”, dizem os que veem na estranheza um traço de identificação. É curioso evocarmos o corpo para anular o gênero dizendo “nem parece”, e revogarmos essa lógica quando o corpo consuma o estereótipo. Thammy consumou o estereótipo homossexual feminino de querer ser um homem, e ainda assim encontrou resistência. Na psicanálise, há uma clara e eficaz diferença entre o objeto sexual escolhido (homem ou mulher) e a posição que o sujeito assume (ativa ou passiva) perante este objeto. Mesmo com vagina, ela assumia a posição masculina, segundo sua parceira, e ativa, segundo nossa hipótese. Mesmo sem o pênis, nada muda. Não é a anatomia que a garante nessa posição ativa e masculina, ela já assumiu essa posição desde o início do Édipo.


Vamos deixar a Thammy em paz. Tive que assumir um discurso capitalista para trazê-lo até aqui. “Todo homossexual tem uma identidade sexual (de gênero) que está em desacordo com os seus órgãos sexuais, do ponto de vista anatômico e fisiológico. Não se trata de um problema hormonal ou genético e sim de identificação”, diz o psicanalista Marco Antônio. Isso sustenta teoricamente sua troca de sexo, e assim finalizamos o seu caso.

Para desatar este engodo supracitado é preciso, com a mesma relevância teórica, porém menos relevância social, dizer que o homem com características femininas não está um grau abaixo da escala heterossexual. Sua escolha de objeto será a mulher, já sua posição será ativa ou passiva. Isso porque "caráter sexual e escolha de objeto [não] coincidem numa relação fixa", disse Freud ao se referir a essas duas posições.


Essa explicação se torna, portanto, um motivo acadêmico, além do já satisfatório senso comum que se pauta no abomínio do preconceito, para se desprender do estigma que arremata a posição ativa ou passiva à escolha do objeto de desejo. Espero que esses poucos parágrafos despertem o desejo pela psicanálise, por que é isso que se pretende aqui.


É sempre um impasse ético recorrer às figuras do main stream, como a Thammy, para analisar um conceito teórico, mesmo que este seja favorável e legitime a pessoa enquanto sujeito. Fazer isso quebra o momento idealizado que almejo acerca do LGBTQI, mas que ainda está longe de chegar. Este momento é aquela parte da história em que tais discussões se tornaram desnecessárias para afirmar o sujeito, para impedir este assujeitamento social que impõe regras morais acerca desse tema. De antemão, peço desculpas por isso.


O Escritor

Psicólogo pela Universidade Veiga de Almeida, estudante de psicanálise e escritor.

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