Tabu na Drogaria
- Nathan Barbosa
- 26 de jan. de 2016
- 2 min de leitura

Uma saída despretenciosa pode propiciar boas análises existenciais. Uma farmácia, aliás, uma drogaria, é muito mais que um lugar onde os sujeitos procuram saciar o desejo de anular os males da vida. Em uma seção, uma esbelta moça perfila os shakes de chocolate; em outra, o rapaz observa sabonetes granado, ao passo que uma mãe e seu carrinho de bebê aproxima-se do caixa e tira uma dúvida. "A partir dos dez anos.", responde a atendente.
A decepção da jovem progenitora, ao ouvir a resposta, misturou-se com o embaraço da negativa, e a leve inclinação de sua cabeça demarcou a dúvida proibitiva de sua pergunta. Furar a orelha de sua menina, ela queria, que aparentava ter uns 2 anos.
Em uma rápida pesquisa, notei que não existe restrição para as farmácias furarem orelhas de bebês, e algumas até o fazem, mas aquela, especificamente aquela farmácia, optou por realizar o procedimento a partir dos dez anos. Por outro lado, a mãe decidiu, pelas duas, aos dois, e provavelmente o fará.
Tabu, pensei. Nem certo, nem errado, mas duvidoso. O tabu encarou aquela mãe como um atacante prestes a bater seu pênalti, com toda a carga de responsabilidade da torcida observando. O sentimento provocado é indizível, difícil de ser tolerado, mas, sejamos honestos, injusto. Tabus surgem e somem o tempo todo, tornam normal o incomum e comum o estranho. Lembremos, por um lado, dos amantes com décadas de diferença na idade e, por outro, do humor politicamente incorreto. O primeiro deixou de ser, enquanto o segundo se tornou um tabu com direito a repulsa.
Assim é a sociedade, construída coletivamente e moldada individualmente, a cada questão duvidosa, a cada saída despretenciosa, a cada transmissão escrita ou falada. A única certeza dessa história, parece ser a influência de uma pergunta sobre o status quo, o poder de deixar o rei em xeque, tendo apenas um peão. Por isso, pergunte.
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